quarta-feira, 21 de setembro de 2011

América Latina insubmissa


"Por sorte, a reserva determinante da América Latina e do Caribe é uma energia capaz de mover o mundo: a perigosa memória de nossos povos. É um imensao patrimônio cultural anterior a toda matéria prima, uma matéria primária de caráter múltiplo que acompanha cada passo de nossas vidas. É uma cultura de resistência que se expressa no esconderijo das linguagens, nas virgens mulatas - nossas padroeiras artezanais -, verdadeiros milagres do povo conyra o poder clerical colonizador. É uma cultura de solidariedade, que se expressa diante dos excessos criminosos de nossa natureza indômita, ou na insurgência dos povos pela lsua identidade e pela sua soberania. É uma cultura de protestonos rostos indígenas dos anjos artezanais de nossos templos, ou na música das neves perpétuas que trata de conjurar com a nostalgia os surdos poderes da morte. É uma cultura da vida cotidiana que se expressa na imaginação da cosinha, do modo de vestir, da superstição craitiva, das liturgias íntimas do amor. É uma cultura de festa, de transgressão, de mistério que rompe a camisa de força da realidade e reconcilia, enfim, o raciocínio e a imaginação, a palavra e o gesto, e demonstra de fato que não há conceito que cedo ou tarde não seja ultrapassado pelo vida. Uma energia de novidade e beleza que nos pertence por completo, e com a qual nos bastarmos nós mesmos, que não poderá ser domesticada pela voracidade imperial, nem pela brutalidade do opressor interno, nem mesmo por nossos próprios medos imemoriais de traduzir em palavras os sonhosmais recônditos. Até a própria revolução é uma obra cultural, a expressão total de uma vocação e de uma capacidade criadoras que justificam e exigem de todos nós uma profunda confiança no porvir"

Gabriel Garcia Marquez, 

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