sábado, 3 de abril de 2010

Aldo, um cidadão de grande calado

Lembro de haver conhecido Aldo Rebelo por meio do Veveu, meu irmão, quando ele era da UNE, antes de ser presidente da entidade. Ele se hospedava lá em casa quando ia à Fortaleza e a Mãe Teresa comentava sobre seu jeito sempre muito educado. Certa vez ela o viu na TV e comentou sobre aquele amigo do Veveu, o magrão. Desde então tive muitos contatos com Aldo. Sua intervenções nas reuniões da bancada da Viração nos congressos da UNE eram sempre uma bússula que nos dava segurança do caminho a seguir. Juntos compartilhamos os primeiros passos da União da Juventude Socialista, a UJS. No primeiro mandato de deputado federal do Inácio Arruda morávamos no mesmo bloco A, da SQN 302, e além de irmos ao trabalho na Câmara juntos, vez por outra tínhamos uma prosa amena no final de semana, inclusive um rachinha de futebol, quando ele vestia uma camisa do seu Palmeiras. Nos muitos eventos do PCdoB quase sempre pinta um encontro, uma prosa boa e uma novidade daqui pra lá e de lá pra cá. Aprendi a respeitar e admirar Aldo por sua simplicidade, sua cultura vasta e profunda, seu humor fino e sua enorme capacidade política.

Nesta semana li uma entrevista sua ao site do Zé Dirceu, onde avalia o desempenho dos Governos Lula nas diversas áreas, defende um estado forte, capaz de dar conta dos desafios de recuperar o país, lista as questões centrais de um projeto para o Brasil, comenta o projeto eleitoral do PCdoB para 2010, opina sobre como é possível fazer a reforma política, fala sobre socialismo, China, América Latina, questões militares e seu atual desafio de relatar o novo Código Florestal. No final Aldo Rebelo comenta a postura da chamada "grande mídia" ao tentar interferir nos destinos políticos do pais e afirma o que reproduzo abaixo. Veja que execelente definição de política o Aldo apresenta, numa demonstração inequívoca de que Aristóteles estava certíssimo ao afirmar que o "homem é um animal político".

"Às vezes, eu tenho a impressão que a imprensa quer subtrair da política a atribuição de ser dona do destino, mediando os conflitos da sociedade. Ela pensa que é uma instituição mais apropriada para fazer isso do que as pessoas, os partidos, a política. Isso deforma o papel da própria imprensa. Retira-lhe a condição de ser parte integrante do país e de reconhecer que há virtudes, qualidades, e também defeitos e deformações que ela não assume. A imprensa junto com outras corporações diagnostica: o país está mal, a culpa é da política e vamos ver se nós que estamos acima disso resolvemos o problema.

Isso gera conseqüências muito graves, porque jamais substituirão a política. Primeiro, porque não têm legitimidade; segundo, porque não tem capacidade; e terceiro, porque as pessoas não vão permitir que isso aconteça. A política nasceu pela necessidade das pessoas. Num país como o nosso, desigual, tornou-se o reduto onde as pessoas podem participar livremente. Ninguém pode, por exemplo, escrever roteiro de novela ou editar os telejornais. O povo não pode fazer isso. O povo não escolhe a hierarquia das igrejas, nem os dirigentes das organizações empresariais e dos clubes. Pode torcer. O que o povo escolhe é deputado, vereador, senador, prefeito, governador, presidente da República. Como o povo vai abrir mão disso? Abrir para quê?

Por essa razão a política ainda se mostra tão forte. Você vai na posse do prefeito do mais modesto munícipio do Nordeste e aquilo é uma festa cívica. Não que eles, os vencedores, nunca vão ter um defeito. Não se trata disso, a festa é porque as pessoas sabem que "aqui eu boto, aqui eu tiro". Então, a política é um espaço em que o povo ainda posso exercer a sua influência. E a imprensa não se dá conta disso, o que a transforma numa instituição arrogante, pretenciosa e que se afasta das pessoas, o que é ruim".

Leia a entrevista inteira.

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