sexta-feira, 30 de abril de 2010

Ernesto, primeiro


As 24 horas do dia 30 de abril tão se findando daqui a pouco, mas o dia vai entrar noite a dentro e a festa vai pegar o noite do outro dia. É que esse menino tico tico aí, primeiro filho da Luisa e do João, primeiro neto do Veveu e da Izolda, primeiro bisneto do papai e da mamãe, meu primeiro sobrinho neto, fez a primeira, das muitas translações em torno do sol que a sua vida terá. Por sua culpa, sua máxima e única culpa, um monte de gente - Wilson e Amélia (pais do João), tios, primos, amigos e alguém mais - veio de Fortaleza pra se encontrarem no final de tarde do primeiro de maio dos trabalhadores na Casa de Pedra e celebrarem essa vida longa, longa vida, que se inicia.


Créditos: A foto foi feita pelo Guilherme agora há pouco na casa de meus pais, quando Ernesto veio colher os primeiros parabéns pela data querida, brincou, fez graça e até ganhou o primeiro presente.

Lembrança e emoção em Sobral

Paulo André, INácio Carvalho, Maninha Morais, Léo Salazar,
Maria Carvalho e Kelly Brasil(as 2
da EM PAUTA Produções) e Zé Brasil

Estou em Sobral desde ontem à convite da Em Pauta Produções, organizadora do Seminário Negócios da Música, onde falei sobre a minha atuação na organização do Festival de Música e Poesia - FEMUP, ali entre os anos 70 e 80. Foi um momento muito legal mesmo, ainda mais porque compartilhei a mesa do debate sobre festivais com a minha queridíssima amiga Maninha Morais, presidente do Centro Dragão do Mar e com um novo amigo, Paulo André Moraes, organizar do Abril Pró Rock e o cara que projetou, entre outros, Chico Science e Nação Zumbi.

O seminário aconteceu no Teatro São João, o que já mexeu muito comigo porque naquele lugar belíssimo aconteciam os eventos culturais mais importantes da Metrópole e eu sempre tava pelo meio. O "São João" foi reformado ainda quando o Cid Gomes era prefeito e o Veveu era Secretário de Cultura e os cabra fizeram um serviço distinto. Preservaram as características originais e o equipamento tá ainda mais mais bonito, bem equipado, com plenas condições de acolher espetáculos de todo jeito, compatíveis com seu tamanho e estrutura. Nem lembro há quanto tempo eu não subia naquele palco. Acho aque ainda foi "naqueles tempos".

Maninha falou legal sobre o Festival de Música de Viçosa do Ceará, que já vai este ano pra sua sexta edição. É uma mistura de formação, intercâmbio e aprentações musicais que encanta qualquer que já foi e até os que não foram ainda, como eu, que já deveria deixar de ser tão cara de pau. É claro que ela falou um pouco sobre o "Dragão" e sua experiência como exímia gestora cultural. Maninha tem um jeito próprio de trabalhar e conduzir a vida onde há sempre muito rigor nas exigências, o que inclui dedicação e competência, mas ela tem uma sensibilidade muito grande para a cultura. Foi muito legal compartilhar não só debate, mas também trocar muitas ideias ao longo do dia.

Paulo André, um cabra muito bem afamado e falado no meio, nos meios de comunicação e por meio de amigos em comum que temos (Fergus Gallas e Dustan Gallas, Guido Bianchi, Indira Amaral) é na verdade um jovem desbravador que poderia ter palestrado por algumas horas e ainda teria muito mais a dizer para um público que o ouviria sem fim. Relatou sua experiência ao decidir, aos 25 anos, organizar há 18 anos, o Abril Pro Rock (o festival tá acontecendo nesses dias e ele não se negou a vir prosear tão bem), apesar muito pouco estímulo, evento que apostou na cena local, nas bandas pernambucanas e dali de perto, geograficamente e culturalmente). Uma ideia muito importante firmada pelo cara é a de que é preciso apostar na talentosa turma nova: "O Pessoal do Ceará teve seu merecido espaço, mas hoje é preciso que a galera tenha seu espaço". Além de contribuir muito para o debate a partir do relato de sua experiência, Paulo André ainda revelou seu encanto com a beleza arquitetônica de Sobral e esteve muito tentado a ficar um pouco, inclusive para conhecer o Festival Mel, Chorinho e Cachaça, que acontece nesse fim de semana em Viçosa do Ceará, mas aí num dava pra largar seu filho dileto que também tá solto nesse mesmo findi. Fica pra outra. (Leia entrevista do Paulo clicando aqui)

Optei por falar a partir daquele momento em que a chapa que encabeçada pelo, hoje advogado, José Menescal Júnior, perdeu a eleição para o Grêmio do Colégio Sobralense, mas fomos convdados pela diretoria eleita para orgnizarmos o festival, considerada uma das melhores propostas da disputada estudantil, e topamos na hora! Achei que deveria fazer um registro importante da riqueza cultural de minha cidade onde surgiram alguns dos primeiros teatros do Ceará (Apolo, 1867 e São João, 1885), onde "choviam" apresentações musicais, de teatro, de poesia, conferências de todo tipo, saraus e tanto mais, para demonstrar que aqueles garotos mal saídos da adolescência eram também herdeiros de uma tradição e de uma vida muito ligada às artes. Por acaso o Menescal Jr, com quem toquei a organização do FEMUP, convidava a gente pra estudar na casa dele e ouvíamos música erudita e o melhor da MPB. Coincidência, ou não, a Escola de Música de Sobral funciona na casa onde morou o Cônego Egberto Rodrigues, tio do Menescal, onde a gente dava uma chegadinha na biblioteca e tinha interessantes papos culurais.

Fazer o FEMUP foi uma aventura ousada e testamos muito da nossa credibilidade quando conseguíamos alguns patrocínios de empresas locais, algumas pertencentes à familiares de colegas nossos que ajudavam no aval aos amigos "produtores" junto aos seus pais. Lembro bem da conversa com o Prefeito de Sobral na época, Dr Zé Euclides, pais do Cid e do Ciro Gomes. Foi prosa demorada, ele querendo saber tudo sobre o festival, buscando identificar quem eram mesmo aqueles meninos, quem participava do evento e qual o nível das músicas e poesias, além de recomenda a leitura dos clássicos da literatura universal. Dr Zé Euclides era advogado e seu hábito profissional nos fez falar tudo. No fim liberou uma grana que nos ajudou a pagar as despesas, mas ao sairmos advertiu: "Mas leiam os clássicos, não esqueçam!".

E a censura, que tava viva demais naqueles anos de luta pelo fim da ditaduira e pela anistia. Tínhamos que levar todos os versospoéticos e letras musicais para análise do pessoal da Solange Teixeira Hernandez, manda chuva do Departamento de Censura da PF. E um probleminha, como enviar ofícios "pros homi" com a assinatura de dois "de menor"? Não lembro como resolvemos essa, mas solução teve. Aí era esperar a liberação e tocar o festival.

Foi coisa bonita. O "São João" lotado de torcida e apreciadores da música.Tinha até gente de outras cidades e até de capital, já que os festivais de Sobral, principalmente o Mandacaru (um dia falo dele) eram bem afamados. Muita coisa bonita. "E os destroços, dessa jangada/Ainda amam o mar das Barreiras, o mar/São teus pilares de búzios/Que sustentam essa paixão/E esse vento cálido sem certa direção/Ouve e gane em meus ouvidos/Qual será tua canção?/Teu farol, estrela mais próxima do chão". Barreiras, a vencedora do I FEMUP era um tributo à Praia das Barreiras, em Camocim. "Benedito da Lagoa", o violão dedilhado por João Rodrigues, que também cantava e "Maria dos Santos", a viola de 12 cordas harpejada por Jefferson Aragão, encheram de melodia a caixa sonora e o palco do histórico teatro da Princesa do Norte.

Lembrar isso tudo, e muito mais, era emoção demais pra mim, que nunca havia falado sobre o FEMUP em outra ocasião distinta dum papo entre amigos. O Paulo André ainda imaginou como eram difíceis as condições técnicas daquela época, e eram mesmo. O som e os instrumentos eram alugados de um conjunto musical de festas, o BR SOM, a iluminação era feita por 24 refletores, sem nenhuma ligação entre si, operada por esse que vos escreve, espécie de quebra galho como iluiminador daquele e de tantos outros shows que aconteciam no teatro. A divulgação era feita no boca a boca, panfletos mimeografados a álcool e na cara de pau nossa de ir ao programas de rádio. Tudo era aventura, essa coisa que torna a vida mais saborosa e cheia de histórias pra contar pros que gostam de aventuras.

Cotovelinho dolorido

Com mais de 80% de popularidade no Brasil, o cara foi eleito o Homem do Ano em 2009 pela revista francesa Le Monde e pelo jornal espanhol El País; considerado o “político mais popular do mundo”, pela Newsweek; premiado como Estadista Global, pelo Fórum Econômico Mundial, de Davos, entre outros títulos e homenagens recentes e agora a revista Time o elegeu como o líder político mais influente do mundo. Assim não tem cotovelo que aguente!

Figurinhas da Copa

Não tem como fugir, ano de Copa do Mundo é também de álbum de figurinhas. Claro que o Guilherme tá de cara nessa e nesses dias em que estamos em Sobral ele compartilha essa delícia de curtição com a prima Bia, noviça na área. Eu fico só ali por perto, como quem não quer nada, mas de vez em quando invento de dar uma ajudinha na abertura dos pacotes e na separação das figurinhas, porque colar o Guilherme não me deixa mesmo. Ah bichinho, run!


A tempo.

1. Ao final dessa postagem eu havia falado, erradamente, mesmo que em tom de brincadeira, que o Guilherme era egoísta e ele, corretamente, protestou nos comentários que não é egoísta. Por essa razão vim aqui reconhecer de público que errei, mesmo brincando, com meu filho.

2. Na verdade ele me pede pra colar as figurinhas dos estádios da Copa da África, que são duas figurinhas juntas e eu o ajudo nisso.

3. A principal demonstração de que o Guilherme não é egoísta ele mesmo tratou de provar ontem. A Bia e ele foram comprar pacotes de figurinhas e ao final da colagem ele tinha uma quantidade muito maior de repetidas do que sua prima. Eles então resolveram trocar e, ao invés de trocar na proporção de uma por uma, ele deu todas as suas e ficou com as da Bia, algo em torno de 3 por 1. Isso é exatamente o contrário de egoísmo. Assim, meu filho querido, peço-lhe desculpas pela brincadeira descuida e com isso você me dá mais uma lição. Obrigado.

quarta-feira, 28 de abril de 2010

Ciro e a cautela do Capitão Virgulino

Eu já estava me encaminhando pra dormir quando vi que o Ciro Gomes havia divulgado uma nota sobre a decisão do PSB de não lançá-lo como candidato a Presidente da República. Como eu já vinha com muita vontade de comentar a postura do deputado nos últimos tempos, achei que agora, encerrado este ato, também poderia meter meu bedelho nessa conversa.

Pra começar eu quero dizer que é preciso reconhecer um papel relevante do Ciro na cena política do Brasil contemporrâneo. Não é o que ele se atribui, mas ele tem méritos sim. Mesmo guardando ainda forte identidade com o Tasso Jereissati, a mais perfeita tradução de político a serviço de interesses contrários ao Brasil e ao povo brasileiro, não acho que Ciro seja igual ao seu amigo. Mesmo quando foi governador do Ceará, sua postura era mais aberta ao diálogo e pode-se dizer que deu sim uma importante contribuição ao novo ciclo de desenvolvimento econômico e social, democracia, soberania nacional e protagonismo internacional iniciado pelo Presidente Lula. É bom lembrar que Ciro foi um dos que enfrentaram a ofensiva da direita, capitaneada por Tasso, entre outros, para por abaixo o Governo Lula na época da chamada "Crise do Mensalão". Teve muita gente que correu da raia, enquanto o nosso conterrâneo, ao lado de outros como Aldo Rebelo, Dilma Rousseff, o próprio Lula e uma parcela expressiva do movimento social (aqui vale destacar o imenso papel da UNE) partiram pra cima dos golpistas tucanos e sua mídia cretina. Esse mérito o Ciro tem.

Acho que ele talvez tenha começado a perder o rumo quando se elegeu deputado federal e parece ter definido como objetivo único e irreversível ser o sucessor de Lula. Isto ele diz com todas as letras na sua nota divulgada há pouco e que reproduzo abaixo. "Esta sempre foi a maior das possibilidades", diz ele. Sempre gosto de lembrar a cautela de Virgulino Lampião, muito citado por meu camarada sertanejo Joan Edessom. O Capitão sempre tinha o cuidado de acampar com seu bando em locais que tivessem mais de uma possibilidade de fuga no caso de ser atacado pelos "macacos" das volantes policiais que o perseguiam nas brenhas do sertão nordestino. Numa única ocasião o Rei do Cangaço se descuidou e perdeu a cabeça, junto com Dona Maria e seu bando, no Raso da Catarina. O arisco Corisco teve mais cuidado e escapou da emboscada seguindo o conselho de seu líder, que viu tombar na margem oposta, onde estava acampado.

Ciro pode ter cometido o mesmo erro de Lampião. Resta saber o que o levou a tal atitude. Temo que por uma característica pessoal sua, que Virgulino não tinha, assim como o sertanejo também não tem: uma certa soberba. Criado no sertão, Ciro talvez não tenha se dado conta de o quanto a humildade é importante, em especial numa personalidade política capaz de mobilizar tanta gente. Não é possivel se imaginar que seu papel fosse unicamente ser Presidente da República. É bom lembrar que em 121anos da República o Brasil teve apenas 35 Presidentes e não foram poucos os que tentaram ser, assim como alguns o foram sem merecer. Mas também é importante lembrar que muitos brasileiros entraram para a nossa história como grandes construtures da nação sem terem ocupado o cargo maior do país. O que seria do Brasil, por exemplo, sem a indiscutível contribuição de José Bonifácio, pra citar o exemplo talvez mais expressivo? Cada homem ou mulher tem a sua missão em determinado momento da história, e o Brasil está repleto de pessoas imprescindíveis, como dizia Brecht.

Ciro agora reage à decisão do PSB dizendo que a acatará, mas insinua que a sua verdade não prevaleu devido a "processos tortuosos", deixa dúvidas quanto ao seu engajamento na luta para derrotar a direita e seu candidato José Serra (não entedi seu elogio ao tucano, em comparação com Dilma), reproduz o discurso udenista dos tucanos sobre "deterioração ética generalizada de nossa prática política" e diagnostica uma "precoce esclerose de nossa democracia", a meu ver uma jovem dama cheia de futuro e muito revigorada pela inédita participação popular na vida nacional. Acho precipitada essa reação pública de Ciro Gomes. Sempre é bom deixar a poeira baixar, tomar maracujina, refletir mais distante dos acontecimentos, conversar com o espelho e com aqueles em quem confiamos a dor e a alegria. É também um momento para repassar a própria trajetória, nos últimos tempos um tanto errática, além de avaliar gestos e palavras, algumas delas precipitadas, que podem tê-lo levado a um certo isolamento.

Felizmente Ciro fala em "controlar a tristeza" e em se concentrar no "futuro de nosso País", para ele, "o que importa". É uma esperança de ainda contarmos com sua contribuição. A máxima do Capitão Virgulino ainda pode estar presente.


Ao rei tudo, menos a honra

“A cúpula de meu partido, o PSB, decidiu-se por não me dar a oportunidade de concorrer à Presidência da República. Esta sempre foi uma das possibilidades de desdobramento da minha luta. Aliás, esta sempre foi a maior das possibilidades. Acho um erro tático em relação ao melhor interesse do partido e uma deserção de nossos deveres para com o País.


Não é hora mais, entretanto, de repetir os argumentos claros e já tão repetidos e até óbvios. É hora de aceitar a decisão da direção partidária. É hora de controlar a tristeza de ver assim interrompida uma vida pública de mais de 30 anos dedicada ao Brasil e aos brasileiros e concentrar-me no que importa: o futuro de nosso País!


Quero agradecer, muito comovido, a todos os que me estimularam, me apoiaram, me ajudaram, nesta caminhada da qual muito me orgulho.
Quero afirmar que uma democracia não se faz com donos da verdade e que, se minhas verdades não encontram eco na maioria da direção partidária, é preciso respeitar e submeter-se à decisão. É assim que se deve proceder mesmo que os processos sejam meio tortuosos, às vezes.

É o que farei.


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terça-feira, 27 de abril de 2010

Fala cachorro

Se vale o ditado de que uma imagem pode falar
mais do que as palavras,
o que diz essa simpática fotografia?

A UNE é união

A UNE reúne futuro e tradição
A UNE, a UNE, a UNE é união
A UNE, a UNE, a UNE somos nós
A UNE, a UNE, a UNE é nossa voz.

(Refrão do Hino da UNE, de Carlos Lyra)

Qualquer um que me conhece sabe o quanto valorizo o movimento estudantil, seu papel indiscutível na história recente do país. Desde o empenho da entidade na busca de conquistas específicas dos estudantes universitários até as mais importantes batalhas políticas dos últimos 70 anos (mobilização da Força Expedicionária Brasileira (FEB) para combater o nazifascismo na Segunda Guerra Mundial, campanha O Petróleo é Nosso, luta contra a ditadura militar, Diretas Já, Fora Collor, etc.) a UNE jamais falhou. Além de um espírito de luta aguerrido, os estudantes sempre tiveram como marca a busca da unidade, a condução unitária de suas lutas.

Neste final de semana esta unidade foi novamente posta à prova. A direita apostou que os estudantes cairiam num certo "canto de sereia" e que até se "venderia" por conta da idenização que terá direito por conta da destruição de sua sede histórica no Rio de Janeiro. A chamada grande imprensa insinuou de todo jeito, mas prevaleceu mais uma vez a máxima de que a "a UNE é união" quando o Conselho Nacional de Entidades decidiu por ampla maioria que não apoiaria nenhuma candidatura específica à Presidência da República, mas aprovaria propostas a serem encaminhadas aos candidatos. Assim feito a entidade se manteve independente, mas comprometida com suas bandeiras históricas e quem quiser o apoio dos estudantes que apóie suas propostas.

No meio do debate vale destacar o artigo do jornalista Alon Feuerwerker, ex-diretor da UNE no início dos anos 80, que registrou um episódio semelhante por conta das eleições de 1982, quando o debate foi entre apoiar o PMDB, então uma frente de forças que lutava contra a ditadura, ou o recém nascido PT. A decisão foi apertada e o voto decisivo do Fredo Ebling (esse menino de barba rala, que na foto histórica aparece de jaqueta jeans e hoje é dirigente do PCdoB no distrito federal) manteve a UNE unitária e independente.

Diz o Alon:

"Corria o ano da graça de 1980 e a diretoria da União Nacional dos Estudantes estava reunida no DCE da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), em Vitória, para tomar posição diante da reforma partidária imposta — ou segundo outras versões permitida — pelo governo João Figueiredo. A UNE fora reconstruída um ano antes e compunhamos a primeira direção, eleita pelo voto direto. Já eram os ventos da abertura a soprar. A diretoria de 15 integrantes era complicada que só. Todos militantes ou simpatizantes de grupos e partidos que uma década antes tinham aderido à luta armada. Um assunto superado pela vida, mas as diferenças políticas persistiam. Parte pendia para o nascente PT, que outros acusavam de ser subproduto da manobra de Figueiredo para dividir o MDB (Movimento Democrático Brasileiro, única oposição partidária permitida pelo regime até então)". Leia mais...

Dessa vez prevaleceu novamente a unidade e seu presidente, Augusto Chagas, anunciu a posição da entidade: “Uma ampla maioria de delegados aqui foi dessa opinião, de que a UNE participe do processo político que vai se dar este ano, no Brasil, com independência e apresentando propostas, o que é mais valioso na nossa trajetória”. Augusto foi mais enfático ainda ao dizer que "quem deve ter candidatos numa disputa eleitoral são os partidos políticos. A UNE deve contribuir com aquilo que há de mais valioso na nossa trajetória, que são as propostas. Nós vamos lutar para que o Brasil não retroceda a determinadas políticas que, na nossa opinião, são negativas. A instituição só tem o prestígio que tem porque sempre conseguiu pautar as grandes questões nacionais, aquilo que interessava à maioria da população, e porque conseguiu conviver com as diferentes opiniões”.

Agora resta saber quais candidaturas se identificarão com os estudantes brasileiros.

Agora assista à entrevista do Augusto Chagas após o 58º CONEG da UNE.

quarta-feira, 21 de abril de 2010

Herói da Nação

Há mais de 30 anos, quando eu escrevia minhas primeiras redações no Colégio Sobralense, a professora pediu para escrevermos sobre Tiradentes. Talvez tomando por um excesso de rebeldia lembro de ter criticado o Herói da Inconfidência. Naqueles tempos, herói pra mim era o Seu Simão, vaqueiro do meu finado Vovô Clodoveu, que metido num gibão de couro e montado no Lazão, corria solto pelo juremal e num perdia uma rês na solta. Esse ainda é o herói que me emociona só de lembrar e por isso num tem uma vez que eu não lembre dele quando vou ao Museu do Vaqueiro, no Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura, em Fortaleza.

Mas a vida nos ensina a perceber algo mais além do que os olhos enxergam e aí eu descobri que existe também um outro tipo de herói, que não está na Liga da Justiça, ou nos quadrinhos da Disney. Ele é de verdade, nunca deixa de existir e inspira a nação inteira. Ele também pode não ser sempre perfeito, cumpre um papel em determinado momento da história que não cumpriria noutro, mas nem por isso deve ser rejeitado ou mesmo ignorado. Tiradentes é um dos que marcaram a nossa curta trajetória como nação soberana, que ele vislumbrou antes de muitos outros brasileiros. Eu assim o acolhi como herói, não ao lado do Seu Simão, mas junto com tantos outros construtores do Brasil. Desse modo trago mais uma vez a contribuição do Aldo Rebelo, para ajudar a entender mais sobre Tiradentes e a atualidade de suas ideias.


Tiradentes e a atualidade da questão nacional

Liberdade – essa palavra,
que o sonho humano alimenta:
que não há ninguém que explique,
e ninguém que não entenda!
Cecília Meireles, em O Romanceiro da Inconfidência

A atualidade de Joaquim José da Silva Xavier deve ser celebrada no 218º aniversário de sua imolação como símbolo de um movimento de autonomia nacional que ainda hoje está por se completar na formação social brasileira. A Conjuração Mineira foi um daqueles sonhos a que os homens se entregam por intuírem o caminho da História antes de a História lhes oferecer as condições determinantes para a materialização do sonho. Assim ocorreu com a Comuna de Paris, em 1791, definida por Karl Marx como uma tentativa de tomar o céu de assalto. Como já tive oportunidade de observar, também aos revolucionários de Vila Rica a História não recusou a razão, mas lhes negou a oportunidade.

O projeto político de conquistar a Independência e proclamar a República do Brasil foi muito além da troça que certos centros de pensamento querem lhe atribuir, apontando os conjurados como mais interessados em não pagar impostos à Coroa portuguesa do que em fundar uma nação. Joaquim José da Silva Xavier foi líder visionário, não um fantoche manipulado pela elite de Vila Rica, que, afinal, se era elite interessada na Independência do Brasil, constituía o povo da época. Como na memorável luta contra os holandeses no Nordeste, no século anterior, em Minas também se reuniam pela causa nacional os reinóis, os mazombos, os mestiços. Todos foram punidos, uns com a morte na cadeia, outros com o degredo e Tiradentes com a forca. Os banidos para a África e que lá morreram só voltariam à pátria por ordem do presidente Getúlio Vargas, que em 1942 mandou buscar um a um os heróis falecidos no desterro.


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Brasília 50

Grafismos de Brasília no olhar da Fernanda do Val

Outro dia declarei aqui meu bem querer por Brasília, a mais nova cinquentenária deste mundo. Talvez a cinquentenária de vida mais intensa de que se tem notícia. A cidade é mesmo linda, apaixonante, aconchegante (lamento pelos que não encontraram suas esquinas e pensam o contrário disso), rica de muitos saberes e mestre de muitas lições para os que desejam aprender. Como diz o Alceu Valença, Te Amo, Brasília!

Há muitas homenagens à cidade e eu mesmo até gostaria de estar hoje por lá pra participar da festa que terá até Milton Nascimento. Tenho ciência de que os brasilienses, nascidos ou adotados pela capital no planalto central, haverão de redimir aquela cidade também maravilhosa. Trago dois olhares postados em blogs. O da minha querida Fernanda e seus grafismos, em seu "Quebra Cabeça ou Este Lado pra Cima", e o vídeo do Blog do Gustavo Alves, um adotado que conhece alguns dos melhores lugares da cidade. Curta e descubra mais Brasília.

Fumaça na crise capitalista



Esse vídeo acima me foi recomendado pelo velho amigo e conterrâneo Menescal Jr, com quem encontrei outro dia, junto com seu filho Vitor, numa sessão do filme, Como Treinar seu Dragão, que assisti junto com o Guilherme. Trata-se de uma panorâmica da movimentação de aviões no mundo durante 24 horas. É muito interessante e dá até pra perceber a sombra da noite fazendo diminuir o tráfego aéreo por onde passa. Realmente é uma imagem muito legal.

Diante desse vídeo a gente nem se assusta com a informação de que aquele vulcão da Islândia de nome estranbólico, Eyjafjallajokull, suspendeu quase 100 mil voos na Europa durante menos de uma semana. É gente demais andando de avião, né? O fumaceiro mexeu com a economia europeia que já tá saculejada pela crise capitalista e falam até que a dita cuja vai voltar cheia de gás.

As empresas aéreas acusaram um prejuizo de quase 2 bilhões de dólares e já estão atrás dos governos pra cobrir o rombo. O diretor geral da Associação Internacional de Transporte Aéreo (IATA), que representa cerca de 230 companhias aéreas em todo o mundo, abrangendo 93% do tráfego internacional, Giovanni Bisignani, disse o seguinte: ""Eu sou o primeiro a dizer que a indústria não quer ou precisa de ajuda financeira. Mas esta crise não é resultado de má gestão do negócio". Em seguida o cara emenda: "Esta é uma situação extraordinária exagerada por um processo ruim de tomada de decisão pelos governos nacionais. As empresas aéreas não puderam trabalhar normalmente. Os governos devem ajudar as companhias a se recuperarem do custo da interrupção dos voos." O cidadão ainda cobrou e pediu que os governos alterem as regulações sobre cuidados com os passageiros, que fazem as empresas aéreas responsáveis pelas contas de hotel, refeições e ligações telefônicas de passageiros impedidos de viajar. "As regulações não foram feitas para situações extraordinárias", disse ele. "É urgente que a Comissão Europeia encontre uma forma de aliviar esse peso injusto."

Você tá vendo aí, né? Essa turma começa dizendo que não precisa de ajuda financeira, mas na hora do sufoco quem acaba salvando todo mundo é justamente o poder público. O moço aí fala de regulação dos cuidados com os passageiros, que dizem respeito aos direitos dos cidadãos, mas na hora de regulamentar as obrigações das empresas eles não querem nem ouvir falar, gritam logo que é o estado não deve interferir na livre iniciativa, que o mercado se autoregula e coisas do gênero. Tudo isso é esquecido nessas horas. Ficou famosa a reação do ex-presidente do Federal Reserve, o banco central americano, Alan Greenspan, diante da explosão da crise capitalista nos Estados Unidos e a necessidade do governo ultraneoliberal do George W. Bush, torrar trilhões de dólares para salvar empresas e até "estatizar" a GM, um símbolo do capitalismo. Greenspan não chegou a anunciar o fim do capitalismo, seria demais, porém disse que alguns dogmas em que acreditou já não se sustentavam mais. É sempre assim, quando a coisa não é como eles imaginavam, dão um jeito de apagar o que disserem ou escreveram, como fez por aqui o Fernando Henrique Cardoso.

segunda-feira, 19 de abril de 2010

Mais não pode haver

Se no mundo tiver gente mais criativa e curtidora que a brasileira, alguém me apresente.

Livros, livros, livros


Encerrando um gostoso final de semana juntos, Guilherme e eu fomos à Bienal do Livro pela segunda vez. Antes passamos na Unifor, para vermos a bela exposição de fotos do Marc Riboud e meu filho ficou tão encantado com as fotos que falou: "Pai, depois vamos pesquisar sobre esse cara".

Visitamos alguns estandes (Feira do Livro, Os menores livros do mundo, de uma editora peruana, Anita Garibaldi, Senado Federal, Edições Demócrito Rocha, Revista e Cia, etc e tal...) e de lá saímos com mais alguns livros (Jubiabá em quadrinhos, As Aventuras de Nhô-Quim e Zé Caipora (primeiro quadrinho brasileiro), Guinnes 2010 e dois livros do Mia Couto - os primeiros do autor que lerei) além dos que já havíamos comprado na quarta feira (Experiências de Química - Gui e suas viagens - e alguns mangás). A grana curta demais não nos permitiu mais. Também não deu pra encontrar o Maurício de Souza por conta do horário meio corrido.

Na visita à Feira do Livro escutei duas histórias maravilhosas. A primeira vai virar uma crônica da jornalista e escritora Luiza Helena Amorim, e trata-se da aventura emocionante de uma menininha que pegou um ônibus em Uruburetama, a mais de 100km de Fortaleza, só para encontrar o escritor de histórias infantis Pedro Bandeira e ganhar um autógrafo. Chegou atrasada para a sessão pública mas seu desejo comoveu um mundo de gente que só sossegou quando conseguiu promover o encontro, já na saída de Bandeira, quase entrando num carro. Emoção demais, da menininha - que não conseguiu falar nada afogada em lágrimas, do escritor encantando com sua pequena fã e minha diante de tão belo acontecimento. A Luiza promete escrever sobre e eu asseguro a publicação aqui.

A outra história quem me falou a livreira Mileide Flores, dona da Feira do Livro. Mileide, uma das curadoras da Bienal, estava maravilhada com a frequência do público - 40 mil estiveram lá no sábado - e mais ainda com a enorme diversidade das pessoas que ali se chegaram. Disse ela:

- Inácio, a gente pôde ver os efeitos da melhoria de vida das pessoas. Gente que nem sabia comprar livros. Queria comprar e vasculhava as prateleiras como quem procura calcinhas, sutiãs, meias, revirando tudo. Não sabia bem o que queria, mas diante da possibilidade de adquirir livros estava ali querendo algo que lhe atraisse.

Mileide, uma criatura totalmente dedicada a possibilitar a massificação da leitura, estava preocupada com o risco das editoras não receberem devoluções de livros amarrotados, mas esbanjava felicidade diante de uma nova realidade que surge em relação ao livro e à leitura. Eu, um brasileiro que sonha em ver os brasileiros lendo mais, espero que as editoras não recebam os livros e sim eles sejam adquiridos por essa gente que vai conquistando mais cidadania no novo Brasil. Lugar de livro num é em editora, é debaixo dos nossos olhos e dentro das nossas mentes.

domingo, 18 de abril de 2010

Pequeno Cidadão



O último acontecimento da Bienal do Livro foi o espetáculo Pequeno Cidadão, do Arnaldo Antunes e Edgard Scandurra, concebido por Taciana Barros e produzido por Antonio Pinto. Fui com o Guilherme e lá tinha muita criança e muita gente grande também que se esbaldou, curtiu a criancice e ficou com saudade dos seus tempos infantis. Um belíssimo espetáculo e mais um momento inesquecível ao lado do meu filhote, um cidadão "muito doido", como ele se define com um sorriso maroto.

Pequeno cidadão
Arnaldo Antunes / Antonio Pinto

Agora pode tomar banho
Agora pode sentar pra comer
Agora pode escovar os dentes
Agora pega o livro, poder ler

Agora tem que jogar videogame
Agora tem que assistir TV
Agora tem que comer chocolate
Agora tem que gritar pra valer

Agora pode fazer a lição
Agora poder arrumar o quarto
Agora pega o que jogou no chão
Agora pode amarrar o sapato

Agora tem que jogar bola dentro de casa
Agora tem que bagunçar
Agora tem que se sujar de lama
Agora tem que pular no sofá

É sinal de educação
Fazer sua obrigação
Para ter o seu direito
De pequeno cidadão

sábado, 17 de abril de 2010

Chico Passeata precisa da nossa força


CAMINHO DA ESPERANÇA
Chico Passeta


siga,
de mãos dadas,
o caminho da esperança
busque a paz
no ritmo compassado
das batidas do coração
abra as portas
da tolerância,
abrace o entendimento
proteja a vida
(a sua e a do universo)
e ela te protegerá
já que nada
é tão bom
que não possa melhorar


O médico/poeta ( ou seria poeta/médico?) Chico Passeata, que versa e prosa da vida e na vida, achou de dar um susto grande em todos e virou paciente. Precisamos todos torcer por ele, para que a rima continue, para que o verso não seja quebrado, para que o riso continue solto e a saúde, especialmente a do povo, não adoeça pela falta de um santo médico.

Um olhar diferente

Hoje pela manhã passei um bom tempo conversando com o advogado Hélio Leitão. A certa altura falávamos sobre o culto dos americanos aos seus mitos e ele conteu essa do seu filho, Helinho.

Hélio pai, um apreciador inveterado do cinema, resolveu alugar um dos clássicos filmes de faroeste americano estrelado por ninguém menos que John Weyne. Pra variar muitos confrontos entre índios e as caravanas que rumavam para oeste. Obviamente não faltava índio morto. A certa altura Helinho pergunta curiosiamente ao papai:

- Pai, por que matam tanto os índios?



Os americanos não só mataram muitos índios, como quase exterminaram os búfalos e ainda elegeram entre seus mitos o rapaz aí da ilustração, o Bufallo Bill, justamente um matador de índios e búfalos. E agora aparecem por aqui com papo de proteção aos povos primitivos. Haja cara de pau.

quinta-feira, 15 de abril de 2010

Bem vinda

“Nem Dilma e nem ninguém precisa de habeas corpus para visitar qualquer local”. Governador Cid Gomes
Sacou aí, Tasso? É melhor ficar calado.

quarta-feira, 14 de abril de 2010

Pesquisa não ganha eleição, mas balança o coreto

A demotucanagem bem que tentou fazer o Serra entrar bonito na campanha. Tava complicado pro pré-candidato da direita sair do governo com uma greve de professores azucrinando o juízo dele e a Dilma subindo nas pesquisas. O jeito foi acionar a Famiglia Frias (crédito para o Miro Borges) e criar um fato novo. A magia foi a pesquisa - se é que se pode chamar assim - do Datafolha mostrou uma pretensa subida do Serra subir e uma que da Dilma.

Mas aí vem aquele velho máxima garrinchiana: esqueceram de combinar com os russos. Daí veio a pesquisa Vox Populi, que você pode ler todinha aqui, e mostrou que nada havia mudado como pretendia a turma do Serra. Ontem outra lenhada capaz de fazer a curriola tucana e seus serviçais perderem o senso e tentarem desqualificar a pesquisa SENSUS pelo fato de ter sido contratada por uma entidade de trabalhadores, no caso o Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias de Construção Pesada de São Paulo (SINTRAPAV). Uma atitude no mínimo preconceituosa. Então as entidades empresariais são insuspeitas para contratar pesquisas e as de trabalhadores são suspeitas? Haja cara de pau. A pesquisa tinha mesmo de ser questionada pelos tucanos, mas não por ter sido contratada por trabalhadores, mas sim porque ela aponta um empate entre as duas candidaturas antagônicas: enquanto o Serra tem 32,7%, a Dilma 32,4%, diferença insignificante de 0,3%, dentro de uma margem de erro de 2,2%. É demais pra direita brasileira aceitar tal realidade e diante disso lhe restou exibir todo o seu despudorado preconceito afirmando que pesquisa de trabalhador não vale, ainda mais se ela mostra que os trabalhadores poderão avançar ainda mais nas conquistas que obtiveram nos dois governo do Lula, peão desaforado que virou Presidente da República.

Mas tem mais. A revista Carta Capital desta semana publica uma interessante matéria sobre a "guerra" entre as empresas de pesquisa. Acho que vale a pena você ler toda, mas destaquei um trecho que me parece muito interessante e que deve ser motivo de muita, mas muita precupação dos políticos e estrategistas tucanos. Diz lá a matéria:

"De volta às pesquisas. Do total de entrevistados, 708 disseram que vão votar em Serra. Desses, no entanto, 34% (23% dos eleitores declarados do tucano) também afirmaram a intenção de votar no candidato apontado por Lula. Na mesma pesquisa, na qual 603 cidadãos anunciaram o voto em Dilma, somente 1% (3% dos eleitores declarados da petista) admite virar a casaca e votar na oposição. “É aí que reside­ a crônica da morte anunciada da campanha de José Serra”, vaticina o cientista político Murillo de Aragão, dono da consultoria Arko Advice, que está longe de ser um analista “petista” ou “chapa-branca”. “É óbvio que a candidata do PT vai subir na esteira da popularidade do governo.” Aragão refere-se ao que ele chama de “conjugação inédita” de três circunstâncias atuais que certamente beneficiam a candidata governista, segundo todas as pesquisas: o nível de satisfação do brasileiro com a vida; a popularidade do presidente Lula, na casa dos 80%, no último ano de mandato (a de Fernando Henrique Cardoso era 35%, em 2002); e a aprovação do governo, em 76%. “São três fatores inexoráveis que vão trabalhar a ­favor da candidata do governo.”

Viu só o drama da tucanagem? Pra dificultar ainda mais a vida da direita brasileira, o pesquisa espontânea do Vox Populi indica que Dilma tem 16% e Serra 12%, só que o Lula ainda tem 16% e como ele não será candidato sabe-se muito bem pra onde vai a grande maioria desse eleitorado. E mais, a mesma pesquisa mostra também que enquanto 10% dos pesquisados não conhece a Dilma, apenas 2% não conhece o Serra. Detalhando um pouco mais 37% conhece bem e tem
muitas informações sobre o Serra, já o percentual da Dilma é 26%. Enquanto 36% conhece,mas não muito e tem algumas informações sobre Serra, o percentual da Dilma é 34%. E por fim, 25% conhece só de nome ou só de ouvir falar o Serra, a Dilma, neste caso, tem percentual maior: 30%. No frigir dos ovos, o Serra já pode estar próximo do seu limite, enquanto a Dilma ainda tem excelentes possibilidades de crescimento.

Diante desse quadro, a Dilma já pode pensar em mandar fazer a roupa nova pra posse. Nem em sonhos. O professor da UFRJ, Wanderley Guilherme dos Santos já alertou para a postura que a direita adotará cada vez que perder espaço político. Cada ganho da Dilma será rebatido com violência, jogo baixo, mentiras, deslealdade e todo tipo de sujeira. Basta ver o que estão fazendo com a trajetória política da Dilma, acusando-a de banditismo, quando na verdade dedicou os melhores anos de sua juventude para lutar em favor da liberdade e da democracia. (Aliás, nesta tarefa suja tem um publicitário conhecido no Ceará, capaz de atitudes vis, desde que seja para beneficiar aquele que lhe pague. Nem me pergunte quem é, descubra nas muitas evidências.)

A vitória das forças democráticas e progressistas não está nas pesquisas, mas na política. Na correta condução política da campanha, na construção de uma aliança política, de partidos e de organizações diversas da sociedade, capaz de viabilizar um programa avançado, capaz de dar continuidade, num novo patamar, ao ciclo político iniciado por Lula. Isto já será um grande passo, mas é preciso empolgar o povo, fazê-lo se sentir também responsável pelo novo, pelas conquistas. Não pode ser apenas expectador da batalha eleitoral, mas sim protagonistas fundamental. Esse será um bom caminho a seguir, nele pode-se encontrar um bela vitória.

terça-feira, 13 de abril de 2010

Marminino!!!

Tasso gosta de andar mal acompanhdo, deusulivre!
O POVO online deu ontem uma manchete dizendo que o Tasso Jereissati reclamou da presença da ex-ministra Dilma Rousseff no Ceará. Pro senadorzão tucano, que se diz palanque do Serra no Ceará, a Dilma estaria afrontando o Ciro, que ainda planeja ser candidato a presidente.

Ora, ora, seu moço, vá pentear macaco, vá! Por acaso vossência é porta voz do Ciro? Vá cuidar do palanque do Serra seu moço, cuide da sua vida e deixe os outros em paz, deixe. Aliás, sobre sua observação de que a Dilma deveria conhecer o Ceará e o povo cearense, acho bom vossência fazer isso antes porque se tá pretendendo ser o cabide do Serra por essas bandas, é bom num trazer esse cabra por aqui não que é capaz dele num ser bem recebido.

segunda-feira, 12 de abril de 2010

Ah é, Dona Judith?

"A liberdade de imprensa é um bem maior que não deve ser limitado. A esse direito geral, o contraponto é sempre a questão da responsabilidade dos meios de comunicação. E, obviamente, esses meios de comunicação estão fazendo de fato a posição oposicionista deste país, já que a oposição está profundamente fragilizada. E esse papel de oposição, de investigação, sem dúvida nenhuma incomoda sobremaneira o governo". Maria Judith Brito


Dona Maria Judith Brito é uma senhora com muitos compromissos, como executiva do Grupo Folhas, dono da Folha de São Paulo, integra a Associação Nacional de Jornais e ali exerce a destacada função de presidente. Ao falar com tanta transparência sobre o verdadeiro papel dos meios de comunicação presta um importante serviço ao povo brasileiro e especialmente aos que acreditam na propalada isenção da mídia.

Eu já disse por aqui que não acredito nessa isenção, na suposta imparcialidade da imprensa. Não vejo razão pra isso. Afinal, há ou não há uma clara divisão de interesses entre os diversos segmentos, mais precisamente, entre as classes em que a sociedade se divide? O fato de, em alguns momentos, haver convergência pontual de interesses não desfaz as contradições fundamentais, os antagonismos. Diante disso porque o jonal O POVO, ou o Diário do Nordeste, ou todo o Sistema Verdes Mares, iria expressar uma opinião favorável às lutas dos trabalhadores, suas mobilizações, greves e manifestações. Para os meios de comunicação as lutas sociais "criam problemas para a população carente", "atrapalham os estudos dos alunos" e até "congestionam o trânsito". É raríssima a ocasião em que buscam saber e exponhem aos leitores/telespectadores/ouvintes as razões dessa ou daquela luta.

No âmbito da cena política as contradições podem até ser menores, pode haver certas coincidências, mas a chamada "grande mídia" não deixa barato e não perde a oportunidade de seguir fielmente o que recomenda a Dona Judith: fazer oposição. Assim, as contradições aparentementes mais tênues, na verdade são muito mais conflitantes porque dizem respeito aos destinos do país e do seu povo. Mas o que me deixa invocado que só um siri na lata, é a cara de pau da imprensa em afirmar candidamente que apenas está cumprindo o seu "papel democrático de fiscalizar os governantes, não importa a que partido pertençam". Será mesmo verdadeiro esse pendor democrático? Pra falar da casa onde Dona Judith executa seu trabalho: a Folha de São Paulo, quando emprestou seus carros para que a ditadura, por ela rebatizada pelo neologismo ditabranda, transportasse presos políticos, exercia mesmo que tipo de oposição? Chegando mais pra cá na história do Brasil, no tempo que o Fernando Henrique Cardoso comprou o voto de deputados pra mudar a Constituição Federal e permitir a reeleição, fato que provocou até a cassação de alguns parlamentares, por que a "mídia oposicionista" não foi atrás de apurar as responsabiliades do Presidente da República? E mais uma do FHC, alguém aí lembra de algum gesto oposicionista/fiscalizador da tal mídia quando o dio cujo foi flagrado ao telefone fazendo lobby em favor de poderosos grupos econômicos na privatização do Sistema Telebrás? Agora aqui no Ceará, alguém viu a oposição da imprensa fazer escarcéu quando o Tasso Jereissati abasteceu o jatinho dele com a verba de desempenho parlamentar do mandato dele no Senado? Não? Ah, não? Ah, sei, é que a oposição é só ao governo Lula e seus aliados, né?

Nos dias de hoje é muito comum os órgãos de defesa do consumidor anunciarem o ranking de empresas com maior número de reclamações. Pois bem, no topo da lista de pior atendimento ao consumidor normalmente estão as empresas de telefonia. Esse fato os meios de comunicação noticiam, nem sempre com muito destaque, mas até que sai alguma coisa. Mas alguém já viu essa mesma mídia ir atrás de saber por que isso acontece? O que isso tem a ver com a privatização das telecomunicações? E a Coelce? Essa sim tem bronca até na raiz: além do serviço questionável, burla o cálculo da tarifa de energia, trata mal seus trabalhadores e ainda faz demagogia com um problema do governo federal dizendo que doa eletrodomésticos à população. Alguém já viu isso na tal imprensa independente?

Sendo assim, acho que a Dona Judith deve ter desagradado alguns de seus pares que tentam manter a pose de anjos, mas acho que ela fez muito bem ao revelar os demônios que se escondem por baixo da falsa imparcialidade. Ela foi tão sincera que, sem pudor, colocou a imprensa no lugar dos partidos políticos de oposição.

Domaducarmo, minha mãe, é uma criatura de muita fé, capaz de perdoar muito pecador malino, mas ela sempre passava um carão nos filhos quando a gente arrumava um mentirinha pra se livrar duma enrascada. Quando ela descobria, não tinha perdão de jeito nenhum e ainda dizia: "Meu filho, a mentira tem pernas curtas, num vai muito longe. Ainda mais pra mim que conheço você mais do que ninguém". Pois assim digo eu pra falsa imprensa, um dia a mentira da insenção cai, e o povo fica sabendo da lorota. É só lembrar das eleição de 2006. Bem que tentaram, mas o Lulinha deu um baile, foi Lula de novo, com a força do povo!

sábado, 10 de abril de 2010

L de Ciana


Você tá vendo a Ciana lá no fundo dessa foto? Pois ela é o motivo de estarmos quase todos nós, papai, mamãe, irmãos, irmãos, sobrinhos e sobrinhas, netas e netos, além de alguns amigos e amigas juntos neste momento em Sobral. A festa é hoje, mas o aniversário dela é no dia 13, terça feira. Quer saber quantos anos ela tá fazendo? Bom, faça umas continhas... Ela fez 15 anos no ano que a ONU definiu como Ano Internacional da Mulher. No dia em ela nasceu o mamãe tinha 29 anos e o papai faria a mesma idade 20 dias depois. Eu nasci 3 anos e 3 meses depois, mas a Hilda nasceu antes....e aí? Já mandou os parabéns pra essa criatura que todo mundo gosta?

Em Sobral, além do Horizonte


Pelo segundo final de semana seguido estou em Sobral, um privilégio especial pra mim que venho pouco à minha Metrópole. O motivo é uma bela festa de família sobre a qual vou falar noutra postagem. Cheguei no começo da tarde e logo fiquei sabendo que o Guarany faria a seminal do segundo turno do campeonato cearense de futebol contra o Horizonte. Aí já era privilégio demais: vir duas vezes seguidas à minha cidade querida, encontrar minha família todinha duas vezes seguidas, em tão pouco tempo, e, de brinde, ir a um jogo do Cacique do Vale, algo que eu não fazia há muitos, muitos anos mesmo.

Preciso dizer que não sou torcedor fanático, sequer sei escalar o Guarany, nem meu Botofogo, como também os Meninos do Santos, minhas predileções futebolísticas. Mas assim como não é bom sujeito aquele que não gosta de samba, brasileiro de verdade só é mesmo quem vive futebol pelo menos uma vez a cada quatro anos - ai ai ai, daqui a quatro anos vai ser bom demais!!!!! Alguma dúvida sobre a impossibilidade de ir ao jogo de hoje? Fui, com meu cunhado Pedro, o Valença, das bandas de São Bento do Una, aparentado do Alceu, companhia das boas, demais conhecido nessa terra das minhas raízes.

Bom encontrar velhos amigos ( na foto o grisalho Isaías "Lampião" - um leitor que pediu registro o faço com satisfação - e o Guilherme Rodrigues) e conhecer novos logo na fila de entrada. Fuzuê grande de gente, "churrasquinho de gato", cerveja e cachaça pra animar a galera, animação e confiança tomando conta do Juncão. A tribo do cacique tá animada. E não é sem razão. Depois de 40 anos, pela segunda vez o time ameaça ganha um turno - perdeu o primeiro por um vacilo grande. Legal ver aquela multidão uniformizada, apesar das cores rubronegras, e entusiasmada com seus jogadores.

O juiz parece que gosta de esculacho (coitada da senhora genitora dele!) e deixou de marcar faltas pro Cacique, expulsou dois dos principais jogadores nossos e ainda "pendurou" outros com amarelos. O pensamento do "magistrado" parecia estar na final, desejoso de desfalcar o adversário do Ceará, naquela de tentar agradar os "grandes", sempre dispostos a serem menores, se for preciso, para "ganharem" um campeonato. Merece registro a presença entre os meus novos amigos de um juiz de direito, que também soltou o verbo contra o seu "colega" no centro da gramado, mas meio constrangido com alguns excessos da torcida.

Mas eu tô falando mal do juiz de por que mesmo? Deixa esse "fela" pra lá e vamos vibrar galera do Guará!!! O Guarany fez 2 a 1 no Horizonte. Tamo na final do turno e agora nada de vacilar na hora da decisão. E depois vamos pra final do campeonato e lá vamos encontrar um time do Fortaleza mal das pernas, que nos derrotou no primeiro turno, mas agora vai provar o gostinho da vigança do cacique, orgulho da Princesa do Norte.
Meu filhote é campeão, o Fogão é quase!
Hoje é meu dia de curtir futebol. O time do meu filho Guilherme foi campeão do interclasses de futsal no Colégio 7 de Setembro, onde ele estuda, quando o time dele ganhou dois jogos, um por WO. Ele estreou a nova camisa branca que lhe dei com seu nome pintado nas costas. Ontem a alegria dele era tanta que quase dormiu uniformizado. Parabéns, galera do 6º/6ª!!!
E há pouco soube que o Botafogo meteu 3 a 2 no Fluminense e estará na final da Taça Rio. Se ganhar será campeão de vez, ou como se diz na gíria futebolística, vai ser de arrastão. Dá-lhe Fogão!!!!

quinta-feira, 8 de abril de 2010

Zé Celso, emoção e ousadia

“Tiraram meu capuz e, quando a porta abriu, eu entrei na legalidade. Vi que vivemos em uma sociedade na qual o que é podre está escondido. Por isso entendo que o que é tabu tem que ser discutido, trazido à tona. Depois da prisão, eu sacralizei o corpo, por isso adoro a nudez.” Zé Celso Martinez

Ontem o Zé Celso Martinez foi anistiado pela Comissão Nacional de Anistia num ato bem parecido com ele, no Teatro Oficina, criado por ele e com muita emoção, uma especialidade dele, ao lado da ousadia. Tudo que aconteceu por lá tá numa matéria feita pela Joaninha Rozowykwiat, do Portal Vermelho, que me provocou lágrimas e você pode ser clicando bem aqui.

"Esse evento foi muito significativo, estão aqui pessoas poderosas que lutam para que os torturadores sejam punidos. E temos que lembrar que preso político e bandido é tudo gente. Não pode haver tortura para nenhum, é imperdoável". Zé Celso Martinez

Brasília, um bem querer

Hoje o PCdoB vai oficializar seu apoio à Dilma num ato aqui em Brasília, onde estou desde ontem. Vim antes para coisas de trabalho, mas aproveitei também pra reencontrar muita gente querida, amizades que fiz há mais de 15 anos quando morei aqui por 15 meses. Fico meio comovido com a acolhida que tenho, sinal de que foram bem regadas as sementes que aqui deixei.

Tenho vindo pouco aqui. Meu trabalho é totalmente ligado à Brasília, mas a inventividade humana já dispensa a minha presença física e por isso muita coisa tá onlaine. Quando venho o bem querer por esse lugar bonito, gostoso, acolhedor, bom de trabalhar e cheia de gente querida cresce, assim como a saudade, quando vou.

Daqui duas semanas a cidade vai completar 50 anos. Eu até gostaria de estar na festa, mas acho que vai uma coisa meio melancólica porque o astral da cidade tá meio baixo por conta de revelações da Caixa de Pandora. Clima de felicidade num tem por aqui e o pior é que a perspectiva não é de melhores dias. Se a criatura Arruda foi flagrada, quem ameaça voltar é o criador Roriz. Assim não tem astral que se segure.

Mas Brasília se recupera. Aqui é um patrimônio da humanidade, da natureza, um centro de muita vitalidade do país haverá de renascer a vida, a dignidade e o novo tempo que empolga o Brasil, criando um novo astral, num plano mais elevado, num plano alto.

terça-feira, 6 de abril de 2010

EUA metralham crianças no Iraque

A postagem abaixo eu trouxe direto do Blog do Miro. O texto dele é mais uma informação pra citar a fonte do vídeo e oferecer mais alguns detalhes. O vídeo não tem tradução e boa parte é o diálogo de soldados americanos via rádio. Nem se preocupe em tentar entender ou traduzir porque aqui as imagens falam tudo que você entender.

Agora, pra você ver como a chamada "grande imprensa", ou como diz meu camarada Messias Pontes, a "mídia venal e golpista", trata o assunto, o portal UOL também postou uma matéria sobre esse vídeo feita pela BBC Brasil, emissora da Inglaterra que também tá enfiada na lama do Iraque, onde as evidências são tratadas como "supostos assassinatos". O que pretendem tratar de forma insenta, na verdade é uma tentativa de amenizar o impacto de cenas tão chocantes, que eles nem mesmo exibem. Canalhice pura. Veja aqui como são isentos.




O sítio WikiLeaks, especializado na divulgação de documentos classificados, postou um vídeo em preto e branco, gravado do interior de um helicóptero Apache dos EUA, que mostra o chacina de 12 pessoas, todas civis – inclusive duas crianças no interior de uma van –, em julho de 2007, num bairro de Bagdá. Entre os mortos, dois jornalistas da Reuters. Na época, diante da pressão da agência de notícias, o governo dos EUA argumentou que o helicóptero tinha sido atacado. Pura mentira. O vídeo é impressionante, revoltante, e mostra o grau de selvageria do imperialismo estadunidense.

domingo, 4 de abril de 2010

O que disse o Ernesto?

Hoje pela manhã, antes de viajarmos de Sobral pra Fortaleza, depois de aproveitarmos muito bem o feriadão com nossa família na Metrópole, meu filho Guilherme e eu fomos ao aniversário da Clarinha, filha do Veveu. Pois bem, depois do parabéns a Sonynha me ajudou a flagrar esse momento de chamego dos anfitrões Veveu e Izolda com o neto Ernesto, mais novo xodó de todos. Observando a cena qualquer um pode imaginar o que diria o primeiro bisneto dos meus pais. Pra mim ele tá dizendo pro "Voveu" o seguinte: "Vai lá, vovô, pega um pedacinho de bolo pra mim antes que os meus tios-primos comam tudo". E você, o que acha que ele tá "falando"?

sábado, 3 de abril de 2010

Aldo, um cidadão de grande calado

Lembro de haver conhecido Aldo Rebelo por meio do Veveu, meu irmão, quando ele era da UNE, antes de ser presidente da entidade. Ele se hospedava lá em casa quando ia à Fortaleza e a Mãe Teresa comentava sobre seu jeito sempre muito educado. Certa vez ela o viu na TV e comentou sobre aquele amigo do Veveu, o magrão. Desde então tive muitos contatos com Aldo. Sua intervenções nas reuniões da bancada da Viração nos congressos da UNE eram sempre uma bússula que nos dava segurança do caminho a seguir. Juntos compartilhamos os primeiros passos da União da Juventude Socialista, a UJS. No primeiro mandato de deputado federal do Inácio Arruda morávamos no mesmo bloco A, da SQN 302, e além de irmos ao trabalho na Câmara juntos, vez por outra tínhamos uma prosa amena no final de semana, inclusive um rachinha de futebol, quando ele vestia uma camisa do seu Palmeiras. Nos muitos eventos do PCdoB quase sempre pinta um encontro, uma prosa boa e uma novidade daqui pra lá e de lá pra cá. Aprendi a respeitar e admirar Aldo por sua simplicidade, sua cultura vasta e profunda, seu humor fino e sua enorme capacidade política.

Nesta semana li uma entrevista sua ao site do Zé Dirceu, onde avalia o desempenho dos Governos Lula nas diversas áreas, defende um estado forte, capaz de dar conta dos desafios de recuperar o país, lista as questões centrais de um projeto para o Brasil, comenta o projeto eleitoral do PCdoB para 2010, opina sobre como é possível fazer a reforma política, fala sobre socialismo, China, América Latina, questões militares e seu atual desafio de relatar o novo Código Florestal. No final Aldo Rebelo comenta a postura da chamada "grande mídia" ao tentar interferir nos destinos políticos do pais e afirma o que reproduzo abaixo. Veja que execelente definição de política o Aldo apresenta, numa demonstração inequívoca de que Aristóteles estava certíssimo ao afirmar que o "homem é um animal político".

"Às vezes, eu tenho a impressão que a imprensa quer subtrair da política a atribuição de ser dona do destino, mediando os conflitos da sociedade. Ela pensa que é uma instituição mais apropriada para fazer isso do que as pessoas, os partidos, a política. Isso deforma o papel da própria imprensa. Retira-lhe a condição de ser parte integrante do país e de reconhecer que há virtudes, qualidades, e também defeitos e deformações que ela não assume. A imprensa junto com outras corporações diagnostica: o país está mal, a culpa é da política e vamos ver se nós que estamos acima disso resolvemos o problema.

Isso gera conseqüências muito graves, porque jamais substituirão a política. Primeiro, porque não têm legitimidade; segundo, porque não tem capacidade; e terceiro, porque as pessoas não vão permitir que isso aconteça. A política nasceu pela necessidade das pessoas. Num país como o nosso, desigual, tornou-se o reduto onde as pessoas podem participar livremente. Ninguém pode, por exemplo, escrever roteiro de novela ou editar os telejornais. O povo não pode fazer isso. O povo não escolhe a hierarquia das igrejas, nem os dirigentes das organizações empresariais e dos clubes. Pode torcer. O que o povo escolhe é deputado, vereador, senador, prefeito, governador, presidente da República. Como o povo vai abrir mão disso? Abrir para quê?

Por essa razão a política ainda se mostra tão forte. Você vai na posse do prefeito do mais modesto munícipio do Nordeste e aquilo é uma festa cívica. Não que eles, os vencedores, nunca vão ter um defeito. Não se trata disso, a festa é porque as pessoas sabem que "aqui eu boto, aqui eu tiro". Então, a política é um espaço em que o povo ainda posso exercer a sua influência. E a imprensa não se dá conta disso, o que a transforma numa instituição arrogante, pretenciosa e que se afasta das pessoas, o que é ruim".

Leia a entrevista inteira.

Guilherme e o sorriso

Tenho razões de sobra pra ser feliz com o filho que tenho. Além de termos momentos de grande descontração, tenho chance de compartilhar com ele sua sacadas superinteressantes. Outro dia íamos pra casa à noite e ele falou que a lua parecia estar sorrindo quando se encontra no quarto crescente. Ontem ele estava com a Sonynha, fazendo fotos na casa de veraneio da Serra da Meruoca e fez essa foto aí. Perguntei o que era e ele soltou essa:

- Pai, é o sorriso. Você não tá vendo?
- Agora tô, né filho.

Violência urbana e o jogo da direita


Na última quinta feira um ladrão de carros foi morto em plena Avenida 13 de Maio, uma das principais de Fortaleza, depois de ser perseguido pelo proprietário do carro roubado e um amigo, que tomou a arma do bandido e o matou. No mesmo dia escutei comentários de pessoas satisfeitas que chegavam a dizer que se "a polícia não resolve, a população dá o seu jeito". No mesmo dia dois outros bandidos quase foram linchados pela população no bairro Canindezinho. Ao longo da semana outros casos semelhantes ocorreram em Fortaleza e o jornal O Estado, com certo regozijo, chegou a publicar um foto manchete onde um assaltante aparece morto e a legenda que dizia algo como: "Dessa vez deu errado".

Pra mim isso não tem nehuma graça. Sou daqueles que consideram o protagonismo do povo um elemento fundamental para que se consiga fazer as mudanças e transformações necessárias à nossa sociedade, mas neste caso eu rejeito totalmente. O jornal O POVO de hoje informa que a notícia do assaltante morto na 13 de maio recebeu 144 comentários na versão on line e a maioria apoiando a atitude dos homens que reagiram e criticando a opinião de gente como Valton Miranda e Glaucíria Mota, dois estudiosos que condenaram o gesto de justiça com as próprias mãos.

Pra mim isso não acontece à toa e nem está descolado o contexto geral do país. Desde que o governador Cid Gomes chamou a Delegado Federal Roberto Monteiro para assumir a Secretaria de Segurança do Ceará e este optou por um trabalho em que prevalecesse o conceito de polícia cidadã, percebe-se uma certa inquietação dos setores conservadores da sociedade, os que querem uma polícia que prende e arrebenta. Há evidências de insatisfação dentro da própria polícia com o novo conceito de polícia que se deseja implantar no Ceará. Radialistas e apresentadores de programas policiais de TV reclamam porque não podem entrevistar e expor os "elementos periculosos" em seus "coliseus eletrônicos". Com grande alarde a imprensa noticiou ações de bandidos contra policiais, viaturas e delegacias, numa clara tentativa de desmoralizar a polícia diante da população, apresentando-a como incapaz de se defender, imagine a sociedade. Diante de tal situação restaria ao "cidadão de bem" resolver o que a segurança pública não resolve. Eis aí a questão.

Mas pra mim há algo mais. Não se pode desconsiderar o contexto geral em que vivemos no país. Estamos num ano decisivo para a continuidade dos avanços que o Brasil vive a partir do ciclo iniciado como a posse de Lula na Presidência da República. É obvio que a direita não vai querer a continuidade dessa situação e fará de tudo para interrompir este ciclo virtuoso do país, que também se replica em outros países latino americanos. Está em curso uma grande reação do imperialismo, como provam o golpe em Honduras, a tentativa de desestabilização de Cuba, a intervenção dos Estados Unidos no Haiti e a vitória da direita no Chile, graças à divisão das forças progressistas. Por esta razão eu acho que a direita vai tentar ganhar de qualquer jeito a eleição presidencial deste ano no Brasil e por isso escolheu o seu quadro mais identificado com suas posições e mais preparado para a disputa que é o José Serra. Lembremos que Serra vem da mesma geração de Dilma, que enfrentou a ditadura militar. Não devemos subestimar a batalha, como bem demonstrou o Miro Borges, em seu blog, ao analisar a última pesquisa do Datafolha.

E o que tem a ver a Dilma, o Serra, o imperialismo, a direita e a conjuntura política com a reação da população de Fortaleza contra bandidos? Tem tuuuudo a ver! A direita precisa de um ambiente que lhe favoreça, que lhe permita ter acolhida às sua ideias retrógradas e desconectadas com a nova realidade brasileira. Para isso a população precisa "sentir na própria pele" algumas mazelas do dia a dia, das deformações sociais e econômicas do próprio capitalismo, entre elas a mais impactante é a violência, a criminalidade. Na medida em que insufla esse tipo de reação entre alguns segmentos da população, a direita encontra identidade com tais segmentos e é entre eles que vai tentar buscar seus seguidores, alguém que lhe defenda.

É preciso ficar de olho nisso. A segurança pública é um desafio para as forças progressistas, que precisam apresentar soluções eficazes para o problema, mas ao mesmo tempo não podem ignorar o debate político em torno do tema, sob pena de perder o norte e se perder na disputa de ideias no seio da sociedade.