sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

O risco do fascismo


"Você sabe que não é único
Que tem muito a superar
E quando o tempo vem então você progride
Porque você tem chorado por muito tempo
As vezes a vida é tão cruel
Mas mudar nunca é uma perda de tempo".

Alanis Morissette

Já falei que evito tratar abordar assuntos policiais e persistirei nessa ideia porque me parece um tema explorado de forma sensacionalista, com desrespeito a direitos elementares das pessoas e como instrumento de promoção de muitos picaretas que acabam enveredando pela seara político eleitoral. Mas esse caso da garota Alanis me fez mudar um pouco de ideia e entrar no tema.

Eu não estava em Fortaleza quando houve o crime e, de longe, fiquei muito temeroso da criança ser filha de amigos e amigas minhas que moram no Conjunto Ceará (acaba que é filha de um ex-funcionário do Renato, tio do Guilherme, que não lembro de tê-lo conhecido). Mas não fiquei menos aliviado por conta do desfecho absurdamente trágico. Nem de longe consigo imaginar a dor daquele jovem casal. Aliás, talvez até consiga desde que amplie infinitas vezes a sensação terrivel que sinto quando penso no que sentiram. Nem quero pensar sobre isso. Prefiro ficar feliz com o depoimento do Washington, meu colega de trabalho, que mora na região. Ele me falou que a mobilização, a solidariedadede foi algo que ele nunca viu. Imediatamente, quando foi percebido o rapto da garota, foram feitos cartazes, adesivos, mobilização boca a boca e uma procura incessante tomou conta da população. Algo mesmo bonito, porém não pode evitar o pior, o pior mesmo, algo até inimaginável.

Agora há algo que me preocupa muito em tudo isso: esse crime bárbaro trouxe à tona, mais uma vez, um sentimento de vingança, de intolerância, de truculência e revanchismo que me parece muito perigoso. Já deixei claro o quanto acho deplorável o crime, mas não me alegra ver multidões em frente delegacias exigindo mais violência, ameaçando linchar um criminoso, sobrando pena de morte. (Alguém pode imaginar o que teria acontecido se tivesse havido linchamento do primeiro preso? Ela nada tinha com o crime e na verdade ajudou a desvendá-lo na medida em que revelou que o seu irmão havia raptado, violentado e matado a garota.) Creio que as palavras da própria mãe de Alanis servem como exemplo para os que desejavam sujar suas mãos de sangue: "Estamos todos indignados, porque foi uma barbaridade, mas não precisa de violência não. Ele vai pagar, Deus é maior. Essa história não vai cair no esquecimento, vamos todos esperar para ver o que vai acontecer". Não comungo da mesma fé divina dessa jovem de 26 anos, que também falava pro seu marido - "Ele disse está sentindo uma raiva muito grande. Tenho até medo do que ele pode fazer" -, mas admiro demais sua maturidade. Também acho que ela tem toda razão ao lamentar que se o criminoso, que já era condenado por crime identico, "estivesse preso, isso não teria acontecido". É um alerta importante e chama atenção para o quanto ainda estamos longe de termos um sistema de segurança que ofereça tranqulidade para a população.

Espero que esse episódio sirva mesmo para ptovocar muitas reflexões desde a população até os organismos públicos e uam parcela majoritária da imprensa que cumpriu um papel lastimável ao insuflar direta ou indiretamente sentimentos negantivos entre o povo. Por isso prefiro a solidadariedade relata pelo Washington, ao barbarismo disceminado pela mídia em busca de audiência.

Nenhum comentário: