quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Pras ruas, moçada!

Em maio de 1983, logo que foi encerrada a apuração das eleições do DCE da Universidade Federal do Ceará, quando a chapa Viração encabeçada pelo estudante de psicologia Gustavo Alberto - hoje professor da mesma UFC - foi eleita com 1234 votos de maioria sobre a chapa Avançando, o então presidente da entidade, Papito Oliveira - hoje delegado do Ministério do Trabalho no Ceará -, anunciou que os estudantes tinham um novo desafio. Em seguida leu um telegrama da Presidente da UNE, Clara Araújo, informando que o governo do General João Figueiredo, havia extinto a meia- entrada estudantil nos cinemas através de uma portaria do Conselho Nacional de Cinema, o CONCINE.

O dia, uma quinta-feira, 5 de maio, já estava amanhecendo e nem deu tempo comemorar a nossa vitória. Aliás, até comemoramos, mas já na luta, passando em sala de aula, convocando os estudantes para uma manifestação. Fizemos uma reunião rápida da diretoria eleita junto com os representantes de Centros Acadêmicos que ainda estavam por ali e marcamos uma passeata, saindo da Reitoria até a Praça do Ferreira, pra quarta-feira seguinte. Gustavo e eu fomos até a minha casa, tomamos um banho e um café da manhã reforçado, feito pela sempre acolhedora Mãe Teresa, depois caimos em campo, ou melhor no campus. Ao meio dia os dois restaurantes universitários, do Benfica e do Pici, viveram uma agitação enorme. A estudantada tava em pé de guerra. Foi moleza botar milhares de estudantes na rua. Além da UFC, tinha gente da UECE, da UNIFOR e os secundaristas.

Foi uma mobilização forte, deu confusão com a polícia, que reprimiu violentamente a manifestação logo na saída da Reitoria, mas depois recuou nas outras, fizemos atividades criativas, como a famosa "fila-boba" - dezenas de estudantes iam pras filas dos cinemas e pediam meia até encher o saco - e ao final os donos de cinemas acabaram cedendo pela metade e instituíram a "meia pra todos". A vitória foi parcial, mas em 1989, o então vereador Inácio Arruda conseguiu aprovar uma lei reinstituindo a meia-entrada em Fortaleza, não só nos cinemas, mas nos espetáculos culturais também, depois estendida pros eventos esportivos. Por uma felicidade tive a satisfação de redigir o projeto de lei, pois já trabalhava como assessor parlamentar. Depois, o mesmo Inácio, assessorado por esse mesmo Inácio, aprovou uma lei estadual com o mesmo objetivo. Uma curiosidade: o Prefeito de Fortaleza, que sancionou a lei municipal, depois foi o mesmo Governador do Ceará que sancionaria a lei estadual: Ciro Gomes.

Agora o direito dos estudantes já tá ameaçado de novo e logo por um tucano, o senador mineiro Eduardo Azeredo, o mesmo que criou o mensalão na campanha eleitoral de 1998. Um projeto do dito cujo simplismente diz que a meia-entrada não poderá ser utilizada entre quinta-feira e domingo, além dos feriados nacionais. Justamente nos dias em que mais o estudante pode usufruir do direito duramente conquistado. Não é uma graça? A proposta indecente tramita no Senado e se a turma num cuidar vai ser aprovada e depois vai pra Câmara dos Deputados.

Pois bem, só tem um jeito dos estudantes garantirem a meia-entrada: nas ruas. Foi nas ruas que ela foi conquistada e é nelas que poderá ser mantida. Seria uma tremenda ironia que justamente num governo democrático e popular, fruto da longa trajetória de lutas do povo brasileiro, os estudantes sofressem uma derrota tão séria. Pois tá na hora de agitar a cena, que anda muito parada. Antes que seja tarde.

2 comentários:

Anônimo disse...

tá na hora
tá na hora
cadê a força dos estudantes?

bons tempos, aqueles....

Ivo Braga disse...

É isso ai Carvalho, a história parece se repetir... Na próxima quarta feira (12/11) é o último dia da eleição do DCE do CEFET, onde estamos concorrendo, e a nossa idéia é fazer uma grande passeata logo na quinta feira, dia 13, esperamos faze-la como dirigentes do DCE JML do CEFET é claro!

Abraços e Saudações Estudantis!