terça-feira, 12 de agosto de 2008

Versos sempre presentes

Semana passada, pra dar uma opinião sobre a decisão do Supremo Tribunal Federal de regulamentar o uso de algemas pela polícia, contei duma história em que fui preso pela Polícia Federal. Pois bem, no domingo anterior à prisão eu estava em Sobral e li no caderno de cultura do jornal O POVO o poema Elogio da Dialética, do Berthold Brecht. E num é que a mesma edição do jornal estava lá na cela da PF, intacta? Fui direto atrás daqueles versos que tanto tinham a ver com aquela situação que eu vivia e dei um jeito de passar pros estudantes que estavam na rua, mobilizados em favor de nossa liberdade. É sempre bom guardar esses versos na alma.



Elogio da Dialética

A injustiça avança hoje a passo firme.
Os tiranos fazem planos para dez mil anos.
O poder apregoa: as coisas continuarão a ser como são.
Nenhuma voz além da dos que mandam.
E em todos os mercados proclama a exploração: isto é apenas o meu começo.

Mas entre os oprimidos muitos há que agora dizem:
Aquilo que nós queremos nunca mais o alcançaremos.
Quem ainda está vivo nunca diga: nunca.
O que é seguro não é seguro.
As coisas não continuarão a ser como são.
Depois de falarem os dominantes
Falarão os dominados.
pois ousa dizer: nunca?
De quem depende que a opressão prossiga? De nós.
De quem depende que ela acabe? Também de nós.
O que é esmagado, que se levante!
O que está perdido, lute!
O que sabe ao que se chegou, que há aí que o retenha?
Porque os vencidos de hoje são os vencedores de amanhã.
E nunca será: ainda hoje.

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